Tenho dormido de janela aberta apesar das noites chuvosas. Meu está telescópio solitário no canto do quarto. Por mais que queira, não posso mais ver minha estrela como via antes... Ela está perdida em algum lugar por trás de tantas nuvens róseas. Eu me debruço em minha cama e olho para o céu encoberto... Pensando em quanto era maravilhosa a minha vida quando tinha esperança de um dia estar ao seu lado... Eu não sabia quanta sorte tinha de ter uma estrela pra admirar mesmo estando tão inalcançável. Tinha... Agora me restou somente uma mancha fosca que passa pelas nuvens da minha tristeza e solidão...
Mais ainda tenho aquela música perfeita que você me mostrou e que toca em mim como uma espada... Todas estas músicas que tem na letra o nome que eu lhe dei... Tenho a palavra que te digo todos os dias ao me despedir, com medo de falar de amor... Tenho a memória de uma vida que nunca tive ao seu lado... Vida que vivi em meus sonhos somente... Tenho até a sua tão doce amizade, que ao mesmo tempo me consola e me tenta... Me tenta como o vinho... Me seduz, me acaricia, me afaga, me embriaga... Acho que tirando isso, tenho apenas as pessoas ao meu redor... Ou será que são apenas vultos...
Um velho amigo me disse uma vez que “O álcool dá bons conselhos aos de coração mole.”. Mas entre o álcool e outras tantas drogas que vejo por ai, escolhi justamente você... Meu vicio... Toda esta distância que surge entre nós dois (não uma distância física, e sim uma barreira que criamos nós mesmos) gerou em mim uma crise de abstinência de você... Queria agora sair correndo debaixo desta chuva a parar aos pés da sua casa... Não sei onde é sua casa... Todos meus sonhos são como uma chama, que começou grande como uma fogueira e agora é menor que a de um isqueiro...
Agora que sou seu “amigo”, não sei mais muito bem o que fazer... Posso começar guardando este amor numa caixinha, junto com tantos outros que já se foram... Aquela paixão que tinha vai murchar com o tempo... A chama de isqueiro vai virar uma faisquinha de nada antes mesmo que eu possa perceber... A minha raiva de mim mesmo já se esvaiu no dia que te disse que te amava, e não me culpo mais por tudo isso... Acho que, no fundo, só livrei minha família de mais um transtorno...
Fico na janela contando as horas, essa eterna angústia que me rasga por uma resposta... Quando toda esta solidão vai acabar? Seria muita presunção minha não admitir que isso foge do meu domínio. No meu caso, acho que nada posso fazer se não escrever e olhar o céu à procura de uma nova estrela. Em um ato extremo, poderia até suplicar seu amor mais uma vez, porem nós não merecemos isso tudo de novo, não é? A grande beleza do mundo é que ele gira, e nos giramos com ele. Enquanto ele girar, terei noites! Em uma delas, uma nova estrela há de sorrir por mim...