O Apolo era o tipo de cara que todo mundo queria ser: Ele morava num dos melhores poentos da cidade, com uma família de posses. Ele tinha um carro que, como se já não fosse o suficiente, era um dos mais bonitos carros que eu já vi. Alem disso Apolo dispunha de um carisma inigualável e de uma beleza digna da capa de qualquer revista. Toda vez que ele passava pelos corredores da faculdade, centenas de garotas desviavam seu olhar. Algumas mais ousadas ainda cochichavam algo para si próprias assim que o viam, coisas que nem me compete aqui dizer.
Bem, já que já usei este pronome, vou me inserir neste conto: Neste quadro que pintei no parágrafo anterior, eu sou um dos caras que parava pra ver o Apolo passar. Sim, eu achava, e ainda acho, que ele é um cara mais bonito do mundo (e não estou usando uma hipérbole). Adorava tirar fotos dele quando ele não estava olhando. É engraçado como as pessoas ficam incrivelmente bonitas fazendo coisas corriqueiras. Há muito tempo que conversava com ele... Na verdade, ele conversava comigo. Acho que ele me viu olhando pra ele uma vez e sorriu achando que eu o conhecia. Depois a gente ficou se sorrindo, depois se cumprimentado, depois peguei carona com ele algumas vezes... Acabamos nos tornando bons colegas. Bem, então acho que já falei o suficiente de nós dois. Vamos então ao que aconteceu:
Uma tarde eu recebi uma mensagem dele pedindo ajuda em uma matéria de engenharia. Eu não sou engenheiro, mas sei muita coisa da área. Merquei com ele na sala de estudos de sempre. Ele tinha duvidas simples até demais para um aluno tão bom, mas meu vicio por perguntas me força a dizer sempre a resposta mais direta pra todas as perguntas que recebo, mesmo sendo duvidas elementares. No meio da simplificação de um circuito lógico, recebi uma mensagem de outro amigo avisando que estava na porta da biblioteca e queria me entregar uma apostila que eu tinha lhe emprestado. Pedi ao Apolo para ficar tomando conta do meu notebook e da minha mochila e fui. Acabei ficando mais tempo fora, o que me pareceram uns quinze minutos. Quando voltei, ele não tinha mexido em quase nada na expressão, parece que estava com problemas em enxergar uma propriedade de álgebra booleana que tínhamos acabado de relembrar. Juro que se fosse um amigo qualquer tinha começado a falar serio com ele nesta hora, mas a cara de duvida deste garoto é incrivelmente linda. É uma cara de ursinho de pelúcia gritando “Me adota!”. Sei lá, eu sempre ficava vermelho e explicava mais quantas vezes fosse preciso.
O tempo passou bem mais rápido do que a gente imaginava. Nove horas da noite ele me deu carona até a minha casa e perguntou se eu poderia ir à casa dele estudar no fim de semana. Na minha cabeça eu queria apenas confirmar, mas meu corpo às vezes reage mais rápido. Falei na voz mais alegre e eufórica: “CLARO!!!” Ele riu, mas foi logo me dizendo que eu poderia aparecer lá no sábado, às três da tarde. Nunca uma noite de terça foi tão longa.
Eu nem sabia se ele gostava de garotos, mas se eu ia na casa do Apolo, eu não podia ir normal. Preparei minha melhor roupa, escolhi o melhor tênis, arrumei meu cabelo (coisa que exige horas de paciência e dedicação)... Quando deu a hora de sair, eu estava muito mais apresentável do que qualquer advogado chegaria à frente de um juiz, tirando o fato que estava usando algo que fizesse parecer que eu só estava de banho tomado. Da minha casa até a dele são umas sete quadras. Juro que no começo queria que eu chegasse logo lá, mas quando fui me aproximando me deu um frio na barriga. Sabe o medo de ser esculachado, ou de ser uma pegadinha, ou de ele ser um psicopata? Eu tive todos, e ao mesmo tempo. Mas logo voltei em mim: Eu só estava indo na casa de um amigo! Um amigo muito apaixonante, lindo, simpático, perfeito... Mas é um amigo! Eu não deveria me preocupar. E foi com este pensamento que bati à porta do apartamento.
Quem me atendeu foi sua avó, uma senhora muito simpática e que vestia um terninho como quem se preparava pra sair. Ela me mandou ir pro quarto, por que ele estava lá estudando. Quando cheguei, Apolo estava de roupas casuais, mas dava pra notar perfeitamente que iria sair mais tarde, pois tinha feito a barba, tomado banho e arrumado o cabelo (o que pra ele deve ser muito simples). Com um sorriso no rosto ele me pediu que eu sentasse no computador e fosse dando uma olhada na apostila , por que ele ia se despedir de sua avó, que ia sair para uma reunião.
Fiz exatamente o que ele mandou: Sentei na cadeira, muito confortável por sinal, a apostila já estava aberta. Comecei a ler, procurando alguns problemas que eu tinha resolvido em casa, me preparando. Em um momento notei que haviam imagens minimizadas na barra de ferramentas. Eu não iria mexer, haja visto que o computador não é meu, mas elas tinham o meu nome como título, seguido da frase “Olhe!”. Logo, maximizei as janelas das imagens.
Pro meu expando, eram as minhas fotos. As que tirei dele! Como ele havia conseguido aquilo? Sem duvida, ele devia ter pego no meu computador quando eu o deixei com ele na sala de estudos. Mas ele deve ter pensado que eu sou um maluco ou coisa parecido... Talvez não, haja visto que me chamou na casa dele... Mas antes que eu pudesse concluir meu raciocínio confuso e desesperado, uma mão me laçou pela cintura.
Virei meu rosto para trás, tentando entender o que acontecia. Foi ai que vi o rosto do Apolo se aproximando do meu tão rápido que eu mal pude esboçar reação. Demorou alguns segundos para que eu caísse em mim e notasse que estava beijando ele... Uma de suas mãos estava em minha nuca e outra na minha cintura. Ele conduziu meu corpo sem reações até a sua cama e quando me dei conta já estávamos deitados, ele sobre mim, segurando minhas mãos contra o colchão. Por um instante, separou sua boca da minha e sorriu, depois mais um beijo curto... Ele chegou sua boca perto da minha orelha e disse sussurrando: “Se quisesse fotos minhas, podia ter pedido.”