As manhãs na “Veneza do Norte” s ao sempre iguais. O sol vem empurrado o denso nevoeiro que obstruía a visão da janela do meu quarto. Pouco a pouco fui levantando, tentando resistir a tentação de ficar por mais alguns instantes na minha cama quente e confortável, porem meu jardim estava lá fora me esperando para retirar seu orvalho, antes que a luz do sol queima minhas pobres arvores.
Enquanto regava a cerejeira, que não havia relutado nada em crescer na fria Holanda, eu pensava em quanto esforço gastei pra fazer crescer cada planta deste jardim. Cultivei cada uma como verdadeiras amantes. E cada uma tem uma fabula, cada uma com sua historia. Cada uma é importante por algo. Ate mesmo esta cerejeira, que foi um presente de aniversario de meu irmão. Ele foi morar no Japão, e de lá veio pra meu aniversario. Numa grande caixa rósea lá estava a pequena plantinha. Apesar de ova, já trazia lindos botões. Ele inegavelmente sabia que eu sempre fui apaixonado pela beleza das sakuras.
Outro ponto de destaque é o pequeno arbusto que plantei próximo a minha janela. Todo ano ele me brinda com púrpuras e enormes romãs que vem quase que sozinhos, com muito pouco cuido ou trato, o que atrai a admiração das pessoas que passam pelo canal ao lado de minha casa. Esta arvore já esteve em um palco, a romã que a deu origem foi elemento de uma das minhas primeiras peças, e foi adorno na mão da Deusa Perséfone. Mesmo após um mês de apresentações a romã ainda estava lá, inteira. Em vez de jogá-lo fora, o guardei. E hoje ele deu origem a esta linda arvore que sempre me lembrara dos palcos e de como me faço feliz neles.
Mas de todas as plantas que brindam meu jardim, de todas as mais diversas flores, a mais linda e especial e a tulipa branca que está sub a minha janela. Ela foi um presente. Não se é comum receber um bulbo de dia dos namorados, mas foi o que ele fez. Me deu um buque de lindas tulipas brancas, e junto um bulbo. Sei que a maioria das pessoas não ia julgar isso romântico, mas eu o julguei. Eu cuidei carinhosamente daquele bulbo, tratei com água, cultivei a muda no frio, esperei a melhor estação. Quando veio sua primeira flora, foi um dos momentos mais felizes da minha vida. E ele estava lá, abraçado comigo, admirando o alvo reluzir das pétalas da ínfima flor. Não demorou e nos casamos, e juntos continuamos a zelar por esta pequena florzinha. Anos se passaram e hoje o que era uma florzinha se tornou um canteiro todo, e a cada dia da primavera, colho uma flor e levo para a mesa de café da manha, olho nos olhos de meu amor e me lembro de como crescemos desde o dia em que ganhei aquele pequeno bulbo. Sei que cada adversidade só contribuiu para nosso desenvolvimento. Cada tempestade só fortaleceu nosso caule para que no futuro possam vir tempestades maiores, sem nos abalar. A doce flor, mesmo depois de podada, vai deixar energia suficiente no solo para que novas flores venham na próxima primavera.
Junto minhas coisas, colho uma linda tulipa e entro, pois a mais bela flor que tenho que cultivar não está no meu jardim, mas me esperando na mesa, pra me dar um beijo e dizer que me ama. E por ele vale a pena acordar todo dia bem sedo e cuidar do jardim, mesmo na fria Amsterdã. Por que a flor branca que é o nosso amor, não pode morrer. E eu não me canso de cultivá-la, mesmo que os frutos venham minguados e em pouco numero, são os mais doces que já provei.
Aown, que romântico. Tulipa *------------*
ResponderExcluir