quarta-feira, 18 de agosto de 2010

Lilium Parte 2

Uma Campina, Uma Laguna e Alguns Vagalumes

     A noite continuava fria. Parte da nevoa que cobria a água adentrava na campina, o que destacava os pontos luminosos que flutuavam no ar. Focamos eu e Bruno observando Ana partir, mas ambos em silêncio. Pouco a pouco a luz da lamparina se apagou no meio das arvores, deixando apenas nos dois no meio da noite. Ficamos nos fitando algum tempo, talvez a espera de que alguém concordasse em começar a falar. Não demorou muito até que eu me sentisse invadido por uma sensação muito estranha, minhas bochechas corarem e vir a minha boca um impulso inevitável de rir.
     – O que ouve? Fiz alguma coisa errada? – Indagou Bruno, com um ar de preocupação, mas também contendo os risos.
      – Então você pediu a Ana que nos apresentasse e ela pediu em troca que a ajudasse a procurar os lírios?
     – Bem... Na verdade ela veio com uma conversa que ela me viu observando você enquanto desenhava, e que poderia me ajudar a chegar perto de você, desde que a ajudasse. Desculpe...
     – Que isso, ela fez exatamente a mesma coisa comigo. – Rimos os dois. – Na verdade era por causa disso que ela veio falar comigo. – Tirei o desenho que avia feito do bolso e dei na mão de Bruno, enquanto me sentava ao seu lado.
     Bruno olhava o desenho inerte... Vi seus olhos deslizarem por sobre a folha algumas vezes, como se quisesse dissecar cada mínima parte, sorver cada detalhe. Não demorou e ele abaixou o rosto e começou a chorar. Meu coração gelou. Será que fui eu quem fez algo errado? Ajoelhei do seu lado e o coloquei a mão em seu rosto. A barba por fazer estava molhada e seu rosto tremia suavemente. Cheguei mais perto e tentei descobrir o que se passava:
     – Desculpe... Fiz algo errado? – Peguei sua mão e trouxe à frente de meu rosto, apertei-a forte a fim de lhe passar confiança. – Me diga, o que houve? Pode falar, eu sou um estúpido, não sou? – Já estava começando a chorar também, por puro efeito da falta de resposta... – Pode falar! Fui o meu desenhos? Fiz algo que você...
     – Não... – Disse me interrompendo. – Não é isso... Bem...
    Ele olhou em meu rosto, em meus olhos. Silencio total a não ser pelos sons da noite. Eu olhava para seus olhos que refletiam a luz dos vagalumes.  Senti quando sua mão se soltou da minha e foi lentamente ao meu rosto. Em sua rota, algumas pausas, como se bruno receasse minha reação. Ao me tocar, sua mão se mostrava incrivelmente quente comparada a noite que nos circundava. Não pude evitar de fechar os olhos e apenas apreciar o carinho no silencio.
     Sua mão deslizava por minha barba, também por fazer, e me causava doces arrepios. Ao mesmo tempo eu reclinava meu rosto por sobre sua palma. Não sei por que, mas simplesmente o fazia, como se ela fosse um travesseiro, que me atraísse e me acolhesse. A mão foi deslizando para meu pescoço. Os arrepios se tornavam mais e mais fortes, a ponto que serrei os olhos. Ao fazê-lo vi que o rosto de Bruno já estava a menos de um palmo do meu... Não podia mais evitar, sua mão já estava em minha nuca e já sentia a sua respiração... Fechei os olhos novamente e esperei que meu corpo falasse por si só.
     Senti seus lábios tocarem os meus pôs um segundo, mas foi o suficiente para que eu sentisse meu coração se chocando contra meu peito. Eu estava apaixonado, já era inegável. Abri os olhos, olhei diretamente para os olhos de Bruno, cruzando nossos olhares. Passei minha mão ao redor de seu corpo... Seu coração também pulsava forte... E mais uma vez um beijo, desta vez com mais segurança... Mais certeza... Mais paixão...
     Mais alguns minutos nos beijando, minutos eternos para falar a verdade, ate que nos deitamos na grama e começamos a conversar...
     – Nossa... A Ana fala muito de você, Alastus. Hoje tive certeza de que é mesmo alguém tão legal quanto ela falava...
      – A Anain é uma mãe e uma irmã pra mim... Não sei o que faria sem ela por perto. Já me ajudou muito... Bem, e agora ela me apresentou você, não é...
      – Anain? Por que Anain?
    – Ah, é uma longa historia. Longa de mais para gastar o meu tempo quando poderia estar aprendendo mais sobre você... Então, de onde você é, Bruno?
     – Sou de Brasília, mas moro no Rio. Trabalho no jardim botânico, e sou biólogo de insetos. Vim para o Okefenokee para estudar comportamento social de um grupo de vagalumes. E você? Não é cosmo-físico? Por que está num pântano?
     – Simples. A Anain queria muito vir. Porem não queria vir sozinha. Eu fui o único que não iria causar ciúmes no marido dela nem deixar o Pablo, pai dela, furioso. Mas estou aproveitando. Escrevendo, desenhando... E alem disso eu prometi ajudar a Anain a achar o lírio... Falando no lírio, acho que deveríamos procurá-lo, não?
       – Verdade, a Ana já fez muito por hoje.
     Levantamos a fomos caminhando pelo campo, nos atentando a parte mais úmida, a fim de ver algum sinal da planta. O vento era frio e cortante, de modo que seguimos abraçados para não sofrermos tanto com o frio. Eu particularmente estava adorando... Algum tempo depois chegamos a beira do rio, mais nada havia alem de água e talvez alguns crocodilos. Foi quando Bruno exclamou:
     –Alastus!!! – Deu-me um beijo rápido e foi correndo. Fazendo sinal para que  viesse com ele. Corri para acompanhá-lo, porem ele era rápido, de modo que tive que apertar o passo para não perde-lo de vista. Passamos por onde estávamos, e ele continuava correndo...
     Mais alguns instantes e então vi que ele pará-ra perto de algo incrivelmente brilhante. Um nuvem imensa de vagalumes que voavam ordenados por sobre uma pequena laguna. E as margens da laguna, iluminados pela luz verde, os pequenos lírios, delicados, perfeitos...
     – Os vagalumes comem lesmas e caracóis, que moram em pequenas lagunas. Lírios do pântano gostam de alagados. Assim, para achar um lírio, basta seguir a luz. – abaixou na beira da laguna e ficou olhando para os vagalumes dançando sobre o espelho d’água. – Como pode ver, na natureza as coisas precisam de outras. Elas coexistem em harmonia de forma que tudo se nutre e sustenta.
    – Na biologia vocês chamam isso de ecossistema, não é? Em meus poemas costumo a chamar isso de amor. – Abaixei-me do seu lado e pus minha mão sobre a dele. Em silencio aproximei meu rosto do dele e dei-lhe um segundo para respirar antes de prosseguir. – Sei que é meio sedo pra isso, mas eu queria te pedir uma coisa. Quando voltarmos pro Brasil, gostaria de não ficar longe de você... Sabe, eu... Vou sentir sua falta...
     Bruno pois a sua mão que eu não segurava em minha boca e me calou. Fiquei apenas olhando seus olhos enquanto esperava por uma resposta. Ele me ergueu e ficou de pé na minha frente, segurando minhas mãos por um instante. Pouco tempo depois ele já deixava escorrer a primeira lagrima. Era difícil de explicar como ele fazia isso, mas toda vez que o via chorando meu coração batia rápido e eu sentia um aperto no peito. Ele me abraçou, e disse perto de minha orelha com uma voz baixa e suave, porém muito feliz:
     – Não sei por que, mas estou apaixonado por você. Sei que eu moro no rio, e você em Minas.Sei que eu sou biólogo e você físico... Sei que tudo conspira contra, mas acho que temos que tentar. Se eu te deixar passar por minha vida, não suportarei olhar minha cara no espelho depois... Você acha que suportaria passar os seus dias comigo, ate que não nos suportemos mais, ou ate que um de nos morra? Sei que está sedo para pedir uma...
     – Quero ser seu namorado. – Disse o interrompendo. – E se me suportar, pretendo sê-lo por muito tempo.
      Não podia ver sua face, mas pelo que eu ouvia e sentia ele estava sorrindo e chorando o dobro de antes. Não resisti a meus impulsos e chorei junto dele. Mais alguns segundos e nos entreolhamos. Foi como se nossa felicidade em ter achado alguém para dividir a solidão se somasse criasse uma aura única de amor e afeto... Um olhar... A mão no rosto novamente... Um carinho... Um beijo...
     E assim fechamos este conto. O que aconteceu depois? Uma vida feliz e contente. Ou talvez um namoro que acabou numa crise boba de ciúmes. Ou ainda uma paixão ardente que não durou até o nascer do sol. Estes personagens são fruto de minha menti, e agora, passo-os  a vocês que os deram vida no fundo de seus inconscientes. Sei que anseios e fantasias podem querer um final feliz. Sei também que a racionalidade prevê algo menos concreto. Mas acho que vale a pena deixar a sorte falar, não?

2 comentários:

  1. Aaaaaaaain, que desfecho perfeito *-*
    Me deixou curiosa, me fez refletir sobre minha próprias vida com palavras sábias no final... Ficou maravilhoso e espero que pessoas como Bruno apareçam sempre em sua vida *-*
    :*

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  2. LINDOOOOOOOOOOOOOOOOOOOO!!! *-*

    Posso chorar juntos de vcs? rsrs. Emocionante. Deu-me mais inspiração pro meu coração, que já está gritando de felicidades, vc sabe. Fico mais feliz ainda em ler essas frases tão ricas de carinho, e amor. Muito obrigado por nos tocar com esse talento tão raro, amigo.

    "espero que pessoas como Bruno apareçam sempre em sua vida" (2), não é Nanda? rs

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