quarta-feira, 29 de dezembro de 2010

Amor e Responsabilidades...

"Tu deviens responsable pour toujours de ce que tu as apprivoisé." (Le Petit Prince)

    "Tu te tornas eternamente responsável por aquilo que cativas." Uma raposa falou isso para um pequeno príncipe de um planetinha sem importância... Pena, nem todos nos somos príncipes. E tantas são as vezes que achamos que estamos lidando com um e infelizmente nos iludimos.
     Por tempos eu achava que sendo um príncipe, seria cercado de pessoas que vendo meu jeito de agir e entendendo como eu penso, pensariam da mesma maneira. Via-me como um mentor de inúmeros principezinhos que sairiam por ai ensinando outros tantos... Ledo e infantil engano...
     Talvez eu seja o ultimo “ouji-sama” do mundo... O ultimo que vai dizer “Eu te amo” Sempre que sentir que ama alguém de verdade, mesmo que a pessoa não esteja perto pra ouvir. Talvez o ultimo a sentir real falta de alguém, a pensar na pessoa amada o dia todo, a não esperar ser amado, e sim respeitado como amante que é... Talvez o maior dos equívocos seja achar que de uma fabula de Antoine de Saint-Exupéry poderia tirar meu jeito certo de viver, e achar que todos deveriam pensar assim...
     Porem, relendo as páginas eu vi um fato que não tinha me atentado... As vezes é necessário cativar também... É nesta parte que talvez tenha falhado... Porem, tudo que fiz até agora foi encher uma folha de “talvez”.
     O jeito é esperar o próximo que me cative, e torcer pra que o ultimo que me tenha cativado saber de seu feito e do peso que ele acarreta... Quanto ao futuro, eu não sei, mas espero um daí olhar no fundo dos olhos de alguém e dizer: “Eu TAMBEM te amo!”

segunda-feira, 22 de novembro de 2010

A Volta de Meus Dias Roxos

    Hoje acordei e me dei de cara com uma realidade louca que a tempos não via: O céu nublado lindo das manhas de fim de primavera, o vento agradável, as arvores verdes, as pessoas sorriam mais uma vez... A minha triste fase cinza resolveu tirar férias!  Como é bom ter meu mundo multicolorido de volta, ter meus sentimentos roxos, minhas vontades azuis, minhas ânsias e desejos tão tangíveis que já os sinto perto de mim.
     Minha amada criatividade voltou! Penso em bosques, montanhas, rios... Cada folha de arvore caída no chão, uma linha de poesia... Ah, e os meus amores de tinta, que não são nem de perto amores, mas são a eles que digo as palavras que não tenho coragem de dizer a quem realmente queria... Mais uma vez consigo os imaginar falando doces palavras de amor, tudo por que agora tenho alguém que diz estas palavras pra mim em meus sonhos.
     E também as minhas viagens lúcidas, como derramar acido na bancada... Como errar contas estúpidas mas acertar toda a teoria... Como simplesmente para, olhar pro céu e ver como ele é lindo. Viajem das quais tinha me privado, ou melhor, das quais meus sentimentos tristes tinham me privado. Viagens que me tornam tão eu...
     É ótimo não ficar mais na janela olhando as nuvens passarem, como que se o tempo ruísse e acabassem todas as nossas chances de sermos felizes. Hoje me peguei de novo olhando as gotas de chuva caindo e pensando no meu antigo sonho de dar meu primeiro beijo debaixo de uma tempestade... Parece imbecil, não é? Mas sim, ainda faço incríveis viagens sobre meus “primeiros”. O primeiro cara que me disser “Eu te Amo!”... A primeira vez que de caminharmos de mãos dadas... A primeira vez que eu o apresentar pra um amigo...  Todos planos mirabolantes do meu consciente criativo... A algum tempo não revisava estes sonhos... Acho que o que me fez retomá-los foi a chance de tentar vê-los com outro rosto como pessoa amada... E tem sido muito bom!
     Obrigado, você tem me feito tanto mesmo sem saber. Você conseguiu me dar uma felicidade que talvez nem saiba... Neste momento, me passam mil maneiras de montar frases de satisfação e de agradecimento, mas nada mais perfeito He do que isto que sinto. Aceite estas simples palavras que escrevi acima como as confissões de um poeta que, por melhor que seja, não tem capacidade pra te agradecer como você merece...

domingo, 14 de novembro de 2010

Se as Sombras Falassem...

     Percebeu como também consigo ser doce as vezes. Até o escuro da noite pode te surpreender... Por que seu coração bate tão rápido? Sei que a tempos espera por isso... Por um acaso minto pra você? Nunca menti... Minhas sombras te assustam, não é? Com o tempo vai se acostumar, apenas relaxe agora. 
      Adoro quando serra seus olhos. Esta gostando, não esta... Deslizo por seu corpo... Sensação de perigo, arrepios. Sente a minha respiração, mas é impossível ver as sombras... E talvez seja isso que me torne mais sedutor... O Desconhecido... O Escuro... A Solidão... Mãos frias que te tocam, e por mais que você tenha medo não consegue resistir... Sou seu temor e seu desejo, sucessivos...
     Misturamo-nos... Deixe-se levar para um nível ainda maior de delírio, prazer e êxtase... Sei que tem receio de perder o controle, mas não há mais como evitar, está rendido de prazer, de desejo... O medo já se tornou outra sensação, uma mais animal, mais volátil... Esta sensação arde dentro de você, te consome... Sou eu o tempo todo... O prazer que você sempre buscou esta em mim, e em minhas sombras que te envolvem...
     Vamos, dê tudo de si. Arrepios, gemidos, gritos... Quero verte se retorcer de prazer... Mas seja ligeiro, antes que o sol nasça ou a luz acenda, e você perceba que não existo, e que está sozinho em seu quarto...


quarta-feira, 18 de agosto de 2010

Lilium Parte 2

Uma Campina, Uma Laguna e Alguns Vagalumes

     A noite continuava fria. Parte da nevoa que cobria a água adentrava na campina, o que destacava os pontos luminosos que flutuavam no ar. Focamos eu e Bruno observando Ana partir, mas ambos em silêncio. Pouco a pouco a luz da lamparina se apagou no meio das arvores, deixando apenas nos dois no meio da noite. Ficamos nos fitando algum tempo, talvez a espera de que alguém concordasse em começar a falar. Não demorou muito até que eu me sentisse invadido por uma sensação muito estranha, minhas bochechas corarem e vir a minha boca um impulso inevitável de rir.
     – O que ouve? Fiz alguma coisa errada? – Indagou Bruno, com um ar de preocupação, mas também contendo os risos.
      – Então você pediu a Ana que nos apresentasse e ela pediu em troca que a ajudasse a procurar os lírios?
     – Bem... Na verdade ela veio com uma conversa que ela me viu observando você enquanto desenhava, e que poderia me ajudar a chegar perto de você, desde que a ajudasse. Desculpe...
     – Que isso, ela fez exatamente a mesma coisa comigo. – Rimos os dois. – Na verdade era por causa disso que ela veio falar comigo. – Tirei o desenho que avia feito do bolso e dei na mão de Bruno, enquanto me sentava ao seu lado.
     Bruno olhava o desenho inerte... Vi seus olhos deslizarem por sobre a folha algumas vezes, como se quisesse dissecar cada mínima parte, sorver cada detalhe. Não demorou e ele abaixou o rosto e começou a chorar. Meu coração gelou. Será que fui eu quem fez algo errado? Ajoelhei do seu lado e o coloquei a mão em seu rosto. A barba por fazer estava molhada e seu rosto tremia suavemente. Cheguei mais perto e tentei descobrir o que se passava:
     – Desculpe... Fiz algo errado? – Peguei sua mão e trouxe à frente de meu rosto, apertei-a forte a fim de lhe passar confiança. – Me diga, o que houve? Pode falar, eu sou um estúpido, não sou? – Já estava começando a chorar também, por puro efeito da falta de resposta... – Pode falar! Fui o meu desenhos? Fiz algo que você...
     – Não... – Disse me interrompendo. – Não é isso... Bem...
    Ele olhou em meu rosto, em meus olhos. Silencio total a não ser pelos sons da noite. Eu olhava para seus olhos que refletiam a luz dos vagalumes.  Senti quando sua mão se soltou da minha e foi lentamente ao meu rosto. Em sua rota, algumas pausas, como se bruno receasse minha reação. Ao me tocar, sua mão se mostrava incrivelmente quente comparada a noite que nos circundava. Não pude evitar de fechar os olhos e apenas apreciar o carinho no silencio.
     Sua mão deslizava por minha barba, também por fazer, e me causava doces arrepios. Ao mesmo tempo eu reclinava meu rosto por sobre sua palma. Não sei por que, mas simplesmente o fazia, como se ela fosse um travesseiro, que me atraísse e me acolhesse. A mão foi deslizando para meu pescoço. Os arrepios se tornavam mais e mais fortes, a ponto que serrei os olhos. Ao fazê-lo vi que o rosto de Bruno já estava a menos de um palmo do meu... Não podia mais evitar, sua mão já estava em minha nuca e já sentia a sua respiração... Fechei os olhos novamente e esperei que meu corpo falasse por si só.
     Senti seus lábios tocarem os meus pôs um segundo, mas foi o suficiente para que eu sentisse meu coração se chocando contra meu peito. Eu estava apaixonado, já era inegável. Abri os olhos, olhei diretamente para os olhos de Bruno, cruzando nossos olhares. Passei minha mão ao redor de seu corpo... Seu coração também pulsava forte... E mais uma vez um beijo, desta vez com mais segurança... Mais certeza... Mais paixão...
     Mais alguns minutos nos beijando, minutos eternos para falar a verdade, ate que nos deitamos na grama e começamos a conversar...
     – Nossa... A Ana fala muito de você, Alastus. Hoje tive certeza de que é mesmo alguém tão legal quanto ela falava...
      – A Anain é uma mãe e uma irmã pra mim... Não sei o que faria sem ela por perto. Já me ajudou muito... Bem, e agora ela me apresentou você, não é...
      – Anain? Por que Anain?
    – Ah, é uma longa historia. Longa de mais para gastar o meu tempo quando poderia estar aprendendo mais sobre você... Então, de onde você é, Bruno?
     – Sou de Brasília, mas moro no Rio. Trabalho no jardim botânico, e sou biólogo de insetos. Vim para o Okefenokee para estudar comportamento social de um grupo de vagalumes. E você? Não é cosmo-físico? Por que está num pântano?
     – Simples. A Anain queria muito vir. Porem não queria vir sozinha. Eu fui o único que não iria causar ciúmes no marido dela nem deixar o Pablo, pai dela, furioso. Mas estou aproveitando. Escrevendo, desenhando... E alem disso eu prometi ajudar a Anain a achar o lírio... Falando no lírio, acho que deveríamos procurá-lo, não?
       – Verdade, a Ana já fez muito por hoje.
     Levantamos a fomos caminhando pelo campo, nos atentando a parte mais úmida, a fim de ver algum sinal da planta. O vento era frio e cortante, de modo que seguimos abraçados para não sofrermos tanto com o frio. Eu particularmente estava adorando... Algum tempo depois chegamos a beira do rio, mais nada havia alem de água e talvez alguns crocodilos. Foi quando Bruno exclamou:
     –Alastus!!! – Deu-me um beijo rápido e foi correndo. Fazendo sinal para que  viesse com ele. Corri para acompanhá-lo, porem ele era rápido, de modo que tive que apertar o passo para não perde-lo de vista. Passamos por onde estávamos, e ele continuava correndo...
     Mais alguns instantes e então vi que ele pará-ra perto de algo incrivelmente brilhante. Um nuvem imensa de vagalumes que voavam ordenados por sobre uma pequena laguna. E as margens da laguna, iluminados pela luz verde, os pequenos lírios, delicados, perfeitos...
     – Os vagalumes comem lesmas e caracóis, que moram em pequenas lagunas. Lírios do pântano gostam de alagados. Assim, para achar um lírio, basta seguir a luz. – abaixou na beira da laguna e ficou olhando para os vagalumes dançando sobre o espelho d’água. – Como pode ver, na natureza as coisas precisam de outras. Elas coexistem em harmonia de forma que tudo se nutre e sustenta.
    – Na biologia vocês chamam isso de ecossistema, não é? Em meus poemas costumo a chamar isso de amor. – Abaixei-me do seu lado e pus minha mão sobre a dele. Em silencio aproximei meu rosto do dele e dei-lhe um segundo para respirar antes de prosseguir. – Sei que é meio sedo pra isso, mas eu queria te pedir uma coisa. Quando voltarmos pro Brasil, gostaria de não ficar longe de você... Sabe, eu... Vou sentir sua falta...
     Bruno pois a sua mão que eu não segurava em minha boca e me calou. Fiquei apenas olhando seus olhos enquanto esperava por uma resposta. Ele me ergueu e ficou de pé na minha frente, segurando minhas mãos por um instante. Pouco tempo depois ele já deixava escorrer a primeira lagrima. Era difícil de explicar como ele fazia isso, mas toda vez que o via chorando meu coração batia rápido e eu sentia um aperto no peito. Ele me abraçou, e disse perto de minha orelha com uma voz baixa e suave, porém muito feliz:
     – Não sei por que, mas estou apaixonado por você. Sei que eu moro no rio, e você em Minas.Sei que eu sou biólogo e você físico... Sei que tudo conspira contra, mas acho que temos que tentar. Se eu te deixar passar por minha vida, não suportarei olhar minha cara no espelho depois... Você acha que suportaria passar os seus dias comigo, ate que não nos suportemos mais, ou ate que um de nos morra? Sei que está sedo para pedir uma...
     – Quero ser seu namorado. – Disse o interrompendo. – E se me suportar, pretendo sê-lo por muito tempo.
      Não podia ver sua face, mas pelo que eu ouvia e sentia ele estava sorrindo e chorando o dobro de antes. Não resisti a meus impulsos e chorei junto dele. Mais alguns segundos e nos entreolhamos. Foi como se nossa felicidade em ter achado alguém para dividir a solidão se somasse criasse uma aura única de amor e afeto... Um olhar... A mão no rosto novamente... Um carinho... Um beijo...
     E assim fechamos este conto. O que aconteceu depois? Uma vida feliz e contente. Ou talvez um namoro que acabou numa crise boba de ciúmes. Ou ainda uma paixão ardente que não durou até o nascer do sol. Estes personagens são fruto de minha menti, e agora, passo-os  a vocês que os deram vida no fundo de seus inconscientes. Sei que anseios e fantasias podem querer um final feliz. Sei também que a racionalidade prevê algo menos concreto. Mas acho que vale a pena deixar a sorte falar, não?

quarta-feira, 4 de agosto de 2010

Lilium - Parte 1


Um Pântano, Uma Amiga Bióloga e Um Jovem Desconhecido

     O Pântano Okefenokee me parecia muito mais belo visto pessoalmente do que nas fotos de meu velho livro de biologia. Fiquei muito feliz de não ter recusado o convite de minha amiga, e mesmo não sendo estudante de biologia, ter embarcado nesta excursão. O objetivo de minha amiga Ana era um só, tirar fotos dos lírios que o pântano exibia, mas ela achava graça de fotografas cada mínima planta carnívora ou florzinha que víamos pelo caminho.
     Junto conosco seguiam no basco mais cinco companheiros de turma da Ana, a professora dela, Martha, uma mulher muito espirituosa, e um guia que falava apenas inglês. Achei engraçado que cada coletava um tipo de informação. Martha estava interessada em catalogar aves, Ana em lírios, os outros estudantes em coisas das mais diversas como algas, anfíbios ou insetos. Como não sou biólogo, estava com meu bloco na mão, e desde nossa chegada já tinha produzido três poemas e um pequeno conto sobre o amanhecer no pântano.
     Não demorou muito a um dos jovens do barco nos fazer parar para tirar fotos de um crocodilo, outro logo mais a frente por uma aranha. Isso para não comentar as mini-aulas que a professora oferecia a respeito das garças e seu comportamento natural. Eu estava entediado disso tudo, a ponto de perder minha inspiração poética. Peguei a prancheta e comecei a esboçar um desenho da paisagem. As arvores com galhos largos de folhas longas davam um ótimo acabamento, mesmo no desenho apenas a lápis.
     No barco, porem um pouco mais à frente, eu notei um garoto que parecia tão entediado quanto o meu. Um jovem de pele bronze e cabelos castanho-escuros olhava para a água como se não visse nada de belo no lugar. Parei para observado por mais alguns instantes, mas nem um movimento se quer... Não podia perder uma chance como aquela. Desenhar um modelo parado era mais fácil que desenhar arvores com o barco se movendo. Troquei a folha e pus-me as traçar os contornos do jovem rapaz. As sobrancelhas eram suaves, porem largas, como se tivessem sido cautelosamente ajustadas ao rosto. As formas brutas do contorno do rosto eram amenizadas pela ausência de barba e aparente pouca idade. Os olhos eram profundos como o rio e... E estavam virados na minha direção!!! Seu idiota!!! Como pode desenhar o rapaz e nem reparar se ele estava te olhando!
     Agora já era tarde, sorri e continuei. Mais alguns traços e o desenho estava concluído, na verdade, tinha ficado muito melhor que eu poderia imaginar. Eu o guardei em minha bolsa e me virei para outro lado como se nada tivesse acontecido. Não demorou muito e Ana veio se assentar ao meu lado. Estava sorrindo. Tive que a perguntar que havia acontecido, por um instante achei que tivesse visto um lírio do pântano. Ela no entanto preferiu me dar um abraço e me dar uma seção de cócegas que sabe que me derrubam sem nem pensar duas vezes.
     Mais duas horas se passaram, mas paramos tantas vezes que achei que tinha passado uma eternidade. O sol já estava se pondo, típico nas noites de fim de ano, e a professora Martha achou melhor acharmos um lugar para acampar. Apesar do guia insistir que deveríamos tentar dormir no barco, a equipe achava muito útil dormir no meio do vegetação, para poderem observar o comportamento da biomassa durante a noite. Na verdade, acho que a coisa que eles menos queriam era dormir. Mais alguns minutos e encontramos uma pastagem pequena na beira do rio, pequena o suficiente para abrigar oito barracas de camping e mais uma módica fogueira para esquentarmos o que poderia ser chamado de “jantar”. Atracamos o barco e tratamos de limpar o local. Ana içou de montar a barraca, pois eu e ela éramos os únicos que íamos dividir o alojamento. Eu, já que não estava preocupado com isso, fui ajudar Martha a fazer a fogueira. Andando um pouco conseguimos encontrar lenha seca, o que era quase impossível num pântano, e pedras para impedir que o fogo se espalhasse.
     Fogueira armada, barracas erguidas e todos arrumando suas coisas. E eu Ana tentávamos fazer dois colchões infláveis entrar numa cabaninha tão pequena, mas em fim conseguimos, apesar de que conseguimos também forrar todo o chão da barraca com os colchões, não sobrando espaço pra quase nada lá dentro. Tratamos de pendurar nossas coisas para evitar que qualquer animal mexesse nelas e fomos para fora.
     O sol já avia se posto e a fogueira sida acessa. A noite ainda não apresentava lua, então tratei de ficar longe da luz por hora a fim de aproveitar a chance de observar as constelações do norte. Tratei de pegar a luneta que trazia na mala e tirar pelo menos uma foto das nebulosas mais evidentes, para guardar de recordação. Não demorou muito ate que Ana me puxasse para perto da fogueira e começarmos a ouvir estórias sobre os milhares de acampamentos que marta já tinha feito. Ana foi logo me falando em tom de cochichos:
     – All. – Adoro quando ela me chama assim. – Eu vi quando estava desenhando o Bruno. Que achou dele?
     – Ora... Bem... Ele parece ser legal. Tem um ar distante, misterioso. Uma duvida: Ele pesquisa o que? Não vi ele parando nem uma vez.
     – Por que não pergunta pessoalmente? Ele não morde, sabia? Ah, ti conheço como a palma da minha mão, está afim dele não está?!  Lido com você há dez anos! Já sei quando esta grilado por alguém. Pode falar.
     – Tá bom vai, ele me chamou atenção sim, mas só isso, tá!
     – Depois eu dou um jeito de juntar vocês dois, pode deixar...
     – ANA!!!
     – Só pra conversarem, seu bobo! – Ele riu. – Mas depois vou querer que me ajude a achar meu lírios, ok?
     – Certo, certo. Pode deixar. Eu faço isso, mas é por você.
     Ana sorriu e me deu um beijo no rosto. O mais engraçado é observar como a fauna e a flora tem o poder de deixar minha amiga feliz. Faz tempos que não a vejo assim, talvez seja desde quando fui padrinho do seu casamento. Biólogos têm o poder de ficar feliz apenas com uma briófita ou talvez com um molusco qualquer. A Ana não era diferente, ficava boba só de ver um opilião e perdia minutos preciosos de conversa para comentar sobre seus conhecimentos a cerca daquela espécie. Por mais que muitos achem este comportamento chato, eu adoro, pois também faço isso com meus pêndulos e elementos periódicos. Talvez por isso nos décimos tão bem há tanto tempo.
     Tomamos um chocolate quente com bolo logo em seguida. A noite estava fria e uma neblina baixa e linda cobria o rio. Tratamos de permanecer todos juntos ao redor da fogueira. Todos se embrulhavam em cobertores, porem eu estava apenas agasalhado, pois ate gostava daquele friozinho. Pouco a pouco as pessoas foram para a cama, sobrando eu, Ana, Martha e mais uma mulher ruivinha que tinha um ar muito alegre e ria bastante.
     Ana tinha levado o violino, então cantamos algumas músicas acompanhadas do instrumento. Adorei quando Ana começou a tocar “Lilium” e apenas eu conhecia a letra. Adoro cantar, ainda mais quando a platéia responde tão bem. A professora ficou maravilhada com a melodia e fez questão de que eu passasse para ela depois . Mais algumas musicas, algumas em finlandês, de um grupo que eu e a Ana adoramos, e em fim Martha e a outra bióloga foram dormir. Restamos eu e Ana.
     – O que você acha de dar um passei na beirada da água?
     – Você acha isso prudente, Ana?
     – Vamos, deixa de ser bobo, os crocodilianos daqui nem são nada destas coisas de cinema não! Vamos, eu juro que volto rápido.
     Após uns minutos de insistência eu fui com ela, não ia deixar aquela maluca ficar andando pelo pântano a noite sozinha. O rio estava muito bonito, ainda mais iluminado pela lua quase cheia que acabara de nascer. Conclui logo que ainda deveria ser sedo, logo não tínhamos tanto problema quanto a ficar um pouco mais acordados. Paramos umas duas vezes para ver plantas que pareciam ser lírios, mas que não eram. Nem pude recusar, pois tinha prometido que ia ajudá-la a achar a tal flor. Também vimos algumas corujas, aves lindas, sem sombra de duvida. 
     Começamos a ver alguns vagalumes. Primeiro em pouco numero, depois chegamos em outra pequena campina onde vimos muito mais deles. Tinha alguém no meio deles, sentado. Antes que pudesse parar para ver quem era, Ana me poupou o trabalho:
     – Bruno, você está aqui! Achei que nunca te acharia.
     Ana me puxou pelo braço. Tentei relutar, mas estava meio que em choque. Ela me conduziu ate o garoto, abraçou ele, e foi logo nos apresentando:
     – Alastus, este é o Bruno, é biólogo e atualmente pesquisa o comportamento dos vagalumes. Bruno, este é o Alastus, ele é escritor, ator e cosmo-físico. Bem, agora acho que posso ir não é? Vocês me devem um lírio do pântano, então acho bom reservarem um tempo da noite de você para acharem um, ok? Minha parte do acordo eu cumpri, agora falta a de vocês, rapazes. Se cuidem.
     E ela se foi, nos deixando sozinhos. Apenas eu, Bruno e os vagalumes...




CONTINUA... 

sábado, 31 de julho de 2010

Os Subterfúgios de um Incrédulo

(ou "Meu Improviso Segundo")


     Já faz algum tempo que remexo minha taça de profiterolis a fim de disfarçar em quanto o vigiava. Vi exatamente quando ele entrou na loja. Era difícil não reparar naquele cara alto de tipo forte, pele bronze e cabelos longos presos em um rabo. Como se há não bastasse ser lindo, ainda exibia aos quatro cantos um magnífico sorriso, invejável de tamanha felicidade. Sorriso inclusive grande demais para alguém que passaria horas sozinho neste café-livraria. Ele foi ate a estante, apanhou dois livros, um drama de Shakespeare e uma comedia de Millor Fernandes, e os comprou. Em vez de sair ele foi para a cafeteria, se sentou sozinho em uma mesa no canto e começou a ler.
     Alguns minutos se passaram. O sorvete de creme que estava na minha taça já avia derretido, mais eu ainda estava lá, apenas observando aquele rapaz. Ele ria tão alto da comedia que era impossível não reparar. Antes mesmo que eu pudesse terminar meu sorvete, ele tinha acabado o primeiro livro e já partia para o drama: Trabalhos de Amor Perdidos. Conhecia este livro como a palma da minha mão.
     A esta altura do campeonato era impossível negar que aquele rosto já fazia muito mais comigo que simplesmente chamar atenção. Acho que todos das mesas ao redor devem ter notado que eu usava o menu como um escudo, como uma torre de observação. E ele lá, já devia estar acabando o primeiro ato... E eu não agüentava mais, tinha que falar com ele...
      Por um estante vi sua boca se movendo, tentei entender o que era... De repente me dei conta! Monologo final do segundo ato! Exatamente na parte onde o Armado fala “Chego a venerar o próprio solo vil em que os seus sapatos, mais vis ainda, guiados pelos pés, que são vilíssimos, se locomovem...”. Podem achar estranho que eu saiba bem o texto, mas é que já ensaiei ele.  Mas alem disso peço que notem o que eu notei: a peça tem 5 atos, ele esta no segundo, e acabando. Tenho que bolar algo rápido para falar com ele.
    Puis-me a pensar enquanto acabada de comer a calda de chocolate. Primeiro pensei em bater na mesa dele “sem querer”, mas seria obvio demais... Então pensei em simplesmente parar ao seu lado e perguntar o nome do livro... Não. Denunciaria logo a minha intenção... Perguntar o que ele achou? Tentar falar que já fiz aquele texto? Todos estes subterfúgios são bons, mas não tenho coragem para executá-los... Ou melhor, são todos bons para a ficção, mas duvido que funcionem na vida real...
     Mas não era mais hora para pensar! Acho que alguém que já leu Stanislavski tem no mínimo a capacidade de improvisar uma cantada! É ridículo ficar aqui pensando em desculpas, em maneiras de me aproximar! Então vai Alastus, termina logo este sorvete, levanta e vai!!! Tomei a ultima colherada, guardanapo na boca para limpar qualquer sujeira. Arrastei a cadeira, virei... Ele já não estava mais lá...
     Na mesa, apenas a xícara de café vazia e um sache de acocar rasgado...

sábado, 24 de julho de 2010

Casal Roxo

     E lá estava eu no banco da praça. Mesmo sendo roxo, são poucas as pessoas que reparam em minha cor. Talvez eu aja de maneira branca demais, ou até azul... Ou talvez as pessoas nem reparem mais nesta cor tão banal... Porem desta vez acho que a causa nem era esta... Desta vez ninguém reparava na minha cor por que outros a exibiam também.
     Do outro lado do parque, num canto pouco iluminado, era possível enxergar dois jovens roxos. Bem... Digamos que eram tons um pouco diferentes: Um era de um tom de roxo bem denso, do tipo vivido e fácil de enxergar, o outro tinha um ar mais sutil, exibia sua cor assim como eu, com mais sutileza... O fato de ver dois roxos juntos nem é um grande problema, visto que é comum aqui onde moro ver grupos de roxos andando por ai, acompanhados as vezes de outras pessoas vermelhas, brancas, amarelas, verdes... Mas este casal era diferente...
     Acho que quando dois roxos se beijam é como se uma luz se acendesse sobre elas. Ou melhor, neles! Por mais que formos para um canto escuro, temos o incrível dom de fazer com que todos nos olhem. E muitas vezes vemos todos os outros virarem os rostos, cochicharem... As vezes nos vemos ate cercados de curiosos que parecem que nunca viram dois roxos se beijando (O pior é que muitos nunca viram mesmo...).
     Não, não acho errado, de modo algum. Beijos puros de amor devem ser dados ao leu entre duas pessoas que se amam. E também não acho que estão errados os de outras cores de estranhar, pois não são todos os roxos que tem esta coragem. Não me esqueço do senhor vermelho que se aproximou de mim e falou com sua voz de moralista: “Que absurdo! No meu tempo não tinham estas coisas.” Ele que na verdade já existia, mas eram feitas por roxos que assim como eu preferem não chamar muita atenção...
     Na verdade talvez ate faça isso algum dia na vida. Talvez nunca tenha feito por um único fato: Para alcançar o brilho de um beijo, um roxo tem que ter um amor verdadeiro a quem beijar. Outro roxo com o coração pulsante de amor e que se atreva a lançar mão de alguns beijos entre pessoas de outras cores... Porem eu ainda não tenho um companheiro de cor, muito menos um disposto à tais beijos. Muito menos ainda um que deseje estes beijos com este roxo que vos escreve... Por hora, fico no banco, observando as reações e anotando em minha velha prancheta...

sexta-feira, 16 de julho de 2010

Desejos Trocados

Por que não podemos nos tocar?
Ouço sua respiração ofegante
E seu peito que palpita rapidamente
E quase se lança fora da caixa torácica
E não é por susto nem por doença
É por calor e desejo de mim
E aqui estamos os dois um ao lado doutro
Sedentos pela carne alheia
Mortos de vontade de morder
De suar, de tatear, de degustar...
E não... Não nos atrevemos a tentar
A testar a vontade alheia
Mesmo tendo absurda certeza
Mas ainda te pego de jeito
Quando menos esperar
E arranco de ti os beijos que queremos
E te faço todo meu, por inteiro,
Nem que seja só por esta noite...

domingo, 11 de julho de 2010

Gêmeos

     Da Vince e Fibonacci diziam que a beleza estava no simétrico e no proporcional... Os cientistas que se focaram nesta área sabem já que nos seres humanos achamos mais bonitas formas isométricas, delineadas e desenhadas... Mas daí temos que fazer uma adaptação destes pensamentos para nossos próprios mundos e visões, tão individuais e diminutas...
      Você que está ai lendo este texto deve se perguntar o porquê de toda esta reflexão, não é... O fato é que hoje reparei em algo que nunca tinha reparado ate hoje: Eu acho irmãos gêmeos incrivelmente atraentes. E por quê? É nisso que eu estou pensando. 
     Para inicio de conversa vem o mais obvio: Os gêmeos são as únicas pessoas do mundo que podem se ver desde pequenos, e não é dentro de um espelho. Sei que se você ai tem um irmão gêmeo, deve achar isso super comum, mas repare bem, mais ninguém no mundo é assim. Você tem alguém incrivelmente semelhante andando por ai, que acorda com você, toma café na mesma casa e tudo mais!!! Isso é muito estranho. Seria como se eu, João, me levantasse e desse de cara com o eu Alastus andando por ai! Mas convenhamos que isso não vem ao caso, não é. Isso não interfere em muita coisa na minha admiração por irmãos idênticos.
     Outro fato que pode me influenciar é que acho que isso ressalta as individualidades da pessoa. Pense bem, você tem alguém que tem os mesmos genes, mora na mesma casa e foi educado pela mesma família. Ai é a hora de esfregar na cara do Mendel: “Nós somos diferentes! Olha E é de nascença, viu?!” O único detalhe que atrapalha é que assim como diziam os tupis “Um irmão vem do Sol e outro da Lua”. Gêmeos conseguem ter comportamentos absurdamente divergentes, sendo possível e normal ter um irmão, muito legal e outro um boco!
      Isso facilita muito a historia, pois na maioria dos casos é impossível gostar dos dois. Pelo menos já sei que não é safadeza de querer namorar os dois ao mesmo tempo... Mas a aparência do gêmeo também ajuda sabiam?! Raramente vemos irmão gêmeos, homens e feios. Acho que Deus tem pena do mundo e já que vai mandar dois, manda logo algo bem eito. Ou então ele faz uma forma tão boa que acha que vale a pena fabricar mais de um pra variar. Mas algo há que faz isso, pois não estou mentindo, gêmeos são estatisticamente mais bonitos.
     Sei que posso ficar folhas dissertando sobre este fato, mas gostar de gêmeos é uma coisa da minha cabeça. Sempre que vejo um gêmeo eu acho ele atraente. Algumas vezes ate achei atraente antes mesmo de saber que tinha irmão gêmeo. Temos que saber que isso é uma peculiaridade minha, e a sua pode ser bem diferente! Há pessoas que gostam de pessoas altas, outros de mulheres gordas, outros de quadris largos (esses existem em grande quantidade)... A verdade é que não devemos pensar muito nos porquês, e sim apreciar o que achamos belo, pois a beleza verdadeira esta dentro, mas querendo ou não o que esta por fora faz diferença. 
       E pra fechar deixo aqui uma reflexão que me foi dita uma vez por minha amada avó, uma mulher velha e sabia, que mora num pacato vilarejo de uma cidadezinha no interior de minas. Lembro-me destas palavras como se fosse ontem: “Se você não é gostoso, não tem por que se preocupar. Gosto é igual cú, cada um tem o seu e dá pra quem quiser! Pode acreditar, sempre vai ter alguém que vai querer dar uma rapidinha com você...” Ah, minha velha avó... Sabias palavras...

quinta-feira, 8 de julho de 2010

Licantropia da Paixão

Existem poucas maneiras de tornar do nada
Um homem comum em um lobo uivante
E não estou falando de licantropia ou superstição
Estou falando da praga que assola os mortais
Estou falando da maneira que ficamos ao tocar-nos
Vemos o céu estrelado dando voltas ao nosso redor
Uivamos e gememos como lobos na noite da lua cheia
E nossas mãos e braços envolvem os corpos dos amantes
Assim como as patas fortes de um lobo cinzento
E assim como o tal, mordemos nossos companheiros
Que como vitimas gritam e gemem de dor ou prazer
E os corpos se fazem um, de uma maneira ou de outra
E o fato mais grandioso é a grande glória do inverno
No fim o quadro é sempre o mesmo de todas as noites
Dois amantes agarrados e silenciosos, adormecidos
Como o sublime lobo que descansa sobre a neve

sexta-feira, 2 de julho de 2010

Ao Contemplar um Jovem Rapaz

Ao contemplar um jovem rapaz
Tentamos nos guiar por uma capa
E com olhares ligeiros e desviados
Tentamos colecionar referencias
Como as cores e estampas da roupa
O bronze ou alvo da pele
A força ou delicadeza de suas mãos
O jeito e o porte de seu corpo
Mas de repente nos pegamos distraídos
Admirando portes específicos de tal corpo
Como os olhos negros ou inertes
Como a postura de seus ombros
Como o físico de seus braços
Como o contorno de seus lábios...
Não, não se trata de amor
Amor não se presta a tão pouco
Isso é atração apenas, senhores
E por hora apenas isso
Um dia pode ate ser mais
Mas caso isso os ocorra
O melhor é apenas olhar
E por mais que sempre sonhemos
É bom as vezes voltar ao normal.

quarta-feira, 16 de junho de 2010

Minha Distração

Você simplesmente me distrai, me tira o foco
Você faz isso como ninguém mais faz
Sem mais nem menos me pego feito bobo
Olhando sua nuca, seus negros cabelos
Admirando o bronze de sua pele
Reparando na sutileza de seus contornos
Na sua blusa divertida e irreverente
Que contrasta com seu rosto serio
De quem sempre anda por ai sozinho
Escutando as mesmas velhas musicas
Aquelas românticas que ninguém mais escuta
(mentira, eu ainda as ouço as vezes)

Adoro reparar seu jeito de agir
Sua voz grave e baixa ao questionar
Porem segura e forte ao responder
Reparo em sua letra simples mas desenhada
E na maneira com que encurva seu corpo
E sempre o faz ao prestar atenção
Aprecio seu jeito de acariciar os lábios
De afagar seu próprio rosto de barba feita
De morder a caneta ou o cadarço da bolsa...
Coisas que faz nos seus piores dias
Dias em que te vejo cabisbaixo
Talvez procurando por você mesmo
Mas no fundo de minha alma
Algumas vezes o via assim vagando
E desejava ardorosamente que um dia
Você encontrasse alguém que te merecesse
Por que no fundo de minh’alma também sei
Que eu sou muito pouco para te merecer...

segunda-feira, 17 de maio de 2010

Morando Comigo

     Não tinha mais como adiar, já eram seis horas da tarde e o céu já estava ficando avermelhado. Dentro de pouco tempo viria a noite e, com ela, o que tanto sonhei. Eu e ele já namorávamos há algum tempo, mas agora era diferente. Eu finalmente tinha saído de casa, e estava morando numa casinha simples no sul da velha Londres. Vizinhos pacatos, rua com árvores, gramados aparados... E a partir desta noite aconteceria a unica coisa que faltava: Meu namorado viria viver comigo.
     Sempre foi um sonho que isso acontecesse e que finalmente pudéssemos viver uma vida feliz juntos sem ter que me importar com as preocupações de horário de meus pais e as limitações que eles impunham para meu relacionamento. Enfim poderia beijá-lo sem me preocupar com meus sobrinhos que poderiam estranhar este tipo de situação. Eu finalmente ia poder ser eu durante todo o tempo.
     Não demorou muito e eu ouvi a garagem abrir. Tinha lhe dado as chaves, para que pudéssemos fazer assim como manda o figurino: o homem da casa chega depois de um dia longo de trabalho. O único problema aqui é que são dois homens e dois carros. Eu cheguei há pouco, e ele está chegando agora. 
     Creio que a esta hora alguns dos vizinhos já devem ter reparado nisso. Talvez ate mesmo aquela doce senhora que me trouxe uma torta de manhã... Não consegui conter minha curiosidade, tive que olhar pela janela. E lá estava ela na porta da casa a frente, como uma sentinela. Não me julguem mal, mas minha cabeça este dia não estava lá muito normal. Fui até a porta, vesti um roupão (porque estava só de bermuda) e sai. Fiquei na porta esperando meu amor vir para entrar. Não demorou muito e ele veio todo sorridente, como se também estivesse ansioso por esta noite. Eu o abracei pela cintura, e dei-lhe um beijo do tipo que se dá em seu namorado só em muito particular.  Torci meu rosto para poder espiar o que acontecia com a senhora do outro lado da rua. Ela havia se levantado e estava entrando. Esperei ela sair e logo cessei o beijo e chamei meu namorado pra entrar.
      Quando contei o que eu tinha feito ele só faltou me bater, mas também riu muito. Mal acabamos de vir morar juntos e já estávamos procurando encrencas com vizinhos. Mas no fim ficamos criando piadas imaginando a pobre senhora fazendo ligações para todos os vizinhos, espalhando o que poderia ser a única noticia realmente nova naquele lugar em décadas.
     Fomos juntos para a cozinha, com o intuito de escolher o que fazer para o jantar. Apesar de cozinhar bem, não tinha muita experiência nesta historia de ser chefe de uma cozinha completa. No fim das contas acabei descobrindo que minha cozinha inteira era enorme e que iria ter que bolar um esquema mais inteligente de guardar os mantimentos, pois foram minutos desperdiçados procurando um simples pacote de pene. Pego mais alguns legumes na geladeira, queijo, berinjela... Pronto, tínhamos o cardápio: Uma salada simples de vegetais cozidos e um pene com molho de ratatouille! Chique, não?! Um pouco de culinária francesa faz bem a qualquer um, principalmente quando o assunto é um jantar a dois. Lógico, acho que nenhum chefe francês gostaria de me ver misturando o macarrão com o ratatouille, mas eu gosto de ousar às vezes. Minha unica dúvida ficou entre pegar uma garrafa de vinho que companhasse bem. Acabei pegando um Bandol rosé lindo que a muito tempo vinha guardando pra uma ocasião ocasião especial. Para ser franco, sou extremamente fraco pra vinho, mas acho que não há problemas em beber na sua casa com o seu namorado. Ainda mais em vinho tão lindo! Seria um pecado negar. Por sorte, seria justamente minha escolha natural pra harmonizar um ratatouille.
      Apesar da proposta promissora e tentadora de meu namorado de ir tomar um banho junto com ele, eu preferi continuar na cozinha. Por quê? Ora, os motivos eram simples. Se eu ficar aqui cozinhando eu vou matar a minha fome, que esta me incomodando bastante. Já se eu subir, primeiro que esse jantar não sai nunca, segundo que nos vamos acabar nos “distraindo” e este banho vai causar um lapso na conta de energia. Logo presumi que começar a preparar o pene era a melhor opção. Coloquei o pene no fogo e  comecei a cortar os legumes com muita calma. Geralmente, cortaria os legumes em farias bem finas, mas para o pene acho que fica melhor em cubos... Adoro cozinhar, como já devem ter percebido. Tenho que confessar que nada supera a sensação de ter uma cozinha só sua, de estar ali fazendo algo que você vai comer e, o melhor, comer junto com a pessoa que você escolheu pra passar o resto de sua vida. Não existe nada mais romântico que cozinhar pra quem se ama.
     Não demorou muito e ele veio. Me abraçou pela cintura sem que eu pudesse ver que ele estava chegando e me mordeu a orelha de um jeito... É como se soubesse que bastaria aquilo pra eu me derreter em seu colo. E foi dito e feito. Não resisti, larguei a massa sozinha na panela e me virei para ele. Nem precisa falar que perdemos um bom tempo neste ritual de mordidinhas e beijos. Acho que para os que já se aventuraram na cozinha se torna quase obvio que nesse meio tempo o que era pra ser um macarrão ao dente se tornou uma sopa que mais lembrava um angu grosso. Resultado: Para o beijo! Vamos nos concentrar na comida.
     Ele, que é praticamente uma negação quando os assuntos são panelas e talheres, ficou por conta de substituir o tao macarrão. Eu comecei a refogar os legumes do molho. O molho do ratatouille pode ser infinitamente complexo, se quiser. Eu estava usando simplesmente um refogado com orégano fresco, alho e cebola, cujo cheiro encantadoramente simples trazia a tona exatamente o espirito que eu queria pra minha nova casa. Rala queijo, monta salada, escorre a massa, harmoniza tempero... Não demoramos mais que trinta minutos para acabarmos de preparar o jantar. Ainda acho que poderia ter sido menos tempo se nos tivéssemos resistido ao fogo, mas ele estava radiante, então não dava pra aguentar a tentação de beijá-lo quase que sempre. Mesa posta, talheres, pratos, o Bandol nas taças e um castiçal com três velas. Vocês devem estar rindo, mas é que eu realmente queria que a noite fosse perfeita, logo me muni antes de todos estes itens. Perfeccionismo é uma marca forte dos librianos e quem sou eu pra ser diferente? Ainda mais quando o assunto é arrancar cada sorriso do rosto do meu amor.
     Jantamos e conversamos muito. O molho, mesmo simples, tinha ficado divino! (Mas fica a nota mental de usar um pouco de noz moscada na próxima, só pra ver como irá ficar.) Meu amor gostou tanto que chegou a comer um pouco mais que o necessário. Eu quase o acompanhei, mas resiste ao menos a esta tentação. Digo ao menos que talvez tenha tomado... Tá! Tomei umas três taças de vinho bem cheias, o que definitivamente era bem mais do que eu estava acostumado. Porem não foram o suficiente para me tirar de mim, apenas me deram mais descontração. Fomos para a cozinha e deixamos as vasilhas muito bem organizadas ao lado da pia. Por que não as lavei?! Era obvio que eu tinha planos melhores para o resto da minha noite do que ficar lavando pratos! (Tarefa essa que eu acho a mais horrorosa da cozinha.)
     Subimos, e agora sim era a hora adequada pra passar no banheiro. Deixei meu namorado no quarto e tomei um banho não muito longo. Perfumei-me, arrumei mais ou menos o cabelo, cueca preta, um robe roxo lindo. Pronto! Sei que ele não repara em metade destes meus zelos, mas me sinto muito bem em tê-los. Quarto com luz apagada. Quando penso em me virar pra acender a luz do abajur, ele vem e me abraça pela cintura. Devo ser um total idiota! Tanto tempo namorando com este cara e ele me pega sempre do mesmo jeito. E o pior: eu sempre me derreto nos seus braços. Ele me conduz até a cama... Mais beijos... Tira meu robe... Bem... Acho que não foi nada mau para uma primeira noite morando juntos.

domingo, 16 de maio de 2010

A Mais Bela Flor que Cultivei

     As manhãs na “Veneza do Norte” s ao sempre iguais. O sol vem empurrado o denso nevoeiro que obstruía a visão da janela do meu quarto. Pouco a pouco fui levantando, tentando resistir a tentação de ficar por mais alguns instantes na minha cama quente e confortável, porem meu jardim estava lá fora me esperando para retirar seu orvalho, antes que a luz do sol queima minhas pobres arvores.
     Enquanto regava a cerejeira, que não havia relutado nada em crescer na fria Holanda, eu pensava em quanto esforço gastei pra fazer crescer cada planta deste jardim. Cultivei cada uma como verdadeiras amantes. E cada uma tem uma fabula, cada uma com sua historia. Cada uma é importante por algo. Ate mesmo esta cerejeira, que foi um presente de aniversario de meu irmão. Ele foi morar no Japão, e de lá veio pra meu aniversario. Numa grande caixa rósea lá estava a pequena plantinha. Apesar de ova, já trazia lindos botões. Ele inegavelmente sabia que eu sempre fui apaixonado pela beleza das sakuras. 
     Outro ponto de destaque é o pequeno arbusto que plantei próximo a minha janela. Todo ano ele me brinda com púrpuras e enormes romãs que vem quase que sozinhos, com muito pouco cuido ou trato, o que atrai a admiração das pessoas que passam pelo canal ao lado de minha casa. Esta arvore já esteve em um palco, a romã que a deu origem foi elemento de uma das minhas primeiras peças, e foi adorno na mão da Deusa Perséfone. Mesmo após um mês de apresentações a romã ainda estava lá, inteira. Em vez de jogá-lo fora, o guardei. E hoje ele deu origem a esta linda arvore que sempre me lembrara dos palcos e de como me faço feliz neles.
      Mas de todas as plantas que brindam meu jardim, de todas as mais diversas flores, a mais linda e especial e a tulipa branca que está sub a minha janela. Ela foi um presente. Não se é comum receber um bulbo de dia dos namorados, mas foi o que ele fez. Me deu um buque de lindas tulipas brancas, e junto um bulbo. Sei que a maioria das pessoas não ia julgar isso romântico, mas eu o julguei. Eu cuidei carinhosamente daquele bulbo, tratei com água, cultivei a muda no frio, esperei a melhor estação. Quando veio sua primeira flora, foi um dos momentos mais felizes da minha vida. E ele estava lá, abraçado comigo, admirando o alvo reluzir das pétalas da ínfima flor. Não demorou e nos casamos, e juntos continuamos a zelar por esta pequena florzinha. Anos se passaram e hoje o que era uma florzinha se tornou um canteiro todo, e a cada dia da primavera, colho uma flor e levo para a mesa de café da manha, olho nos olhos de meu amor e me lembro de como crescemos desde o dia em que ganhei aquele pequeno bulbo. Sei que cada adversidade só contribuiu para nosso desenvolvimento. Cada tempestade só fortaleceu nosso caule para que no futuro possam vir tempestades maiores, sem nos abalar. A doce flor, mesmo depois de podada, vai deixar energia suficiente no solo para que novas flores venham na próxima primavera.
     Junto minhas coisas, colho uma linda tulipa e entro, pois a mais bela flor que tenho que cultivar não está no meu jardim, mas me esperando na mesa, pra me dar um beijo e dizer que me ama. E por ele vale a pena acordar todo dia bem sedo e cuidar do jardim, mesmo na fria Amsterdã. Por que a flor branca que é o nosso amor, não pode morrer. E eu não me canso de cultivá-la, mesmo que os frutos venham minguados e em pouco numero, são os mais doces que já provei.

quarta-feira, 5 de maio de 2010

Análise de um sentimento

Sei que é bom e puro
Então presumo que é amor
Poderia ser algo mais forte
Mas sei que não o é
Pois meu coração não suportaria

Mas o tipo de amor muito me intriga...
Será daqueles amores que nos enlouquecem?
Do tipo de amor entre amantes?
Duvido muito, não é amor normal
Mas também não é amor de amigo
Pois amamos amigos próximos ou antigos
Não amamos amigos conhecidos há poucos dias
Não amamos pessoas sem olhar em seus olhos
Não amamos pessoas se não tiver se apaixonado
E sem duvida não me apaixonei...

Logo concluo que não é amor
Mas sim é ‘Amor’
Algo transcendental e difícil de descrever
Ate mesmo pra meus versos confusos
Mas sei que este amor
Faz-me de bem querer e bem dizer
Faz-me sentir falta de você
Faz-me sonhar com você
Faz-me orar todas as noites
E pedir aos céus pela sua felicidade
E assim obter aminha



       Dedico estes versos a Paulo Vitor, um rapaz brilhante. Mesmo o conhecendo há pouco tempo, e nunca tendo o visto pessoalmente, criei com este garoto um vinculo inexplicável, de tal forma que me abro com ele facilmente (o que é muito difícil pra mim).  Saiba que agora mesmo penso em você, que pra mim já é muito mais que um simples colega de internet, é sim um companheiro de estrada pra vida toda!!!

segunda-feira, 3 de maio de 2010

Ontem

      Ontem bastava um sorriso na boca de qualquer pessoa, ate na sua mesmo, para que eu me deitasse em seu colo, pra que eu o desse afeto. Bastaria apenas mais uma mão em meu ombro pra que eu gostasse de você.
      Se esta mão ousasse deslizar por minha nuca eu louco me apaixonaria quase instantaneamente. Olharia maravilhado para seus olhos a espera do que você iria falar.
     Sei que não será, mas se posse um “Eu te amo...” eu choraria o mais denso de todos os meus prantos. Uma metade das lágrimas seria por ter ouvido isso, a outra metade seria de tristeza por nunca ter reparado em você antes.
     E a partir daí não sei mais o que faria, mas sei que você saberia exatamente o que fazer pra arrancar de mim o que quisesse. E eu simplesmente não me importaria, nem se quer o impediria, pois estaria cego graças a esta vida longa a procura de um amor que talvez você tenha pra me dar....

quinta-feira, 15 de abril de 2010

Em meu breve sonho

Serrei os olhos por um instante
E lá estava ela vindo ate mim
Seu corpo escorria a água da chuva
Que pena que foi só um sonho...
Eu meu sonho não o tive em meus braços
Em meu sonho nem se quer o toquei
Mas ao olhar em seus olhos
Por baixo dos óculos de sempre
Via que no fundo ele me amava
E eu me inflava com isso
Eu sabia que eu tinha uma chance
Mas é uma grande pena
Foi só um sonho...
Foi só mais uma ilusão
Provei mais uma vez que não sei amar
Provei mais uma vez que sofro
Desta vez menos, sim
Mas toda dor é igual pra quem sofre
E está feriu tanto quanto as outras
Pois amei sem ser amado
E sem um pingo de coragem de falar
De simplesmente dizer “eu te amo”
Mas sempre me sobra coragem
(ou seria mesmo covardia)
Pra escrever versos em desalento
Pedindo socorro ao vento
A alguém que talvez nem exista...

domingo, 11 de abril de 2010

Estou à sua espera...

Depois de inúmeros poemas em vão
Em fim descobri o que eu tanto queria
Estava dentro de mim o tempo todo
Era só alguém que me beijasse
Sem que eu sequer precisasse pedir
Era alguém que me aquecesse
Sem que seja necessário toques
E alguém que eu possa mar sem pudor
Sem medo de ofender alguém...
Amar por apenas amar
Do jeito que eu sei que sou
E amar alguém do jeito que é

Que pena...
Por mais que eu tenha quem eu ame
Ele pelo visto não me ama...
E eu fico só esperando
Esperando uma declaração
Mas no fundo eu sei
Que talvez ela nunca venha...

quarta-feira, 10 de março de 2010

Confissão de um Garoto Roxo

    Se você já me conhece, já deve ter reparado na minha cor não. Sim eu sou roxo, mas não pensem que isso é fácil. Nasci numa família onde todo mundo é branco. E ser roxo no meio de uma casa de brancos pode ser um desafio, por isso sempre escondi minha cor da minha família. Mas mesmo assim não tem como, de vez em quando as pessoas viram para minha mãe e meu pai, falando: “Nossa, você já notou como este menino é diferente?” E eles cegos diziam: “O que?” e as pessoas apontavam para o obvio, eu era roxo.
     Depois de diversos anos escondendo de todos este estigma que carrego, eu me dei com um fato muito importante: Eu não era o único roxo daqui. Nesta cidade em que moro, comecei a notar que aviam tantos outros roxos, assim como eu. Sendo assim comecei a andar pelas ruas e observá-los. A cada canto via uma bochecha rocha corada, uma boca roxa sorrindo. Uma menina roxa no balanço. Tinham roxos por toda a parte, e poucos eram os que se preocupavam com o que os outros iam pensar de sua cor.
     Ao meu lado passavam também brancos, pretos, verdes, amarelos, pessoas de todas as cores. Elas as vezes paravam e reparavam naquela cor estranha, fora de contesto, o tal do roxo. Outra ainda depois de terem parado proferiam afrontas contra a exibição de tal cor. As velhas senhoras vermelhas e elegantes viravam o rosto como se não tivessem o que ver ali. E as crianças inteligentes, com potencial intelectual notório e com uma curiosidade incrivelmente natural, viravam para seus pai e perguntavam: “Papai, por que aquele homem é roxo?” E o pai desconversava. “Papai, mas porque eu sou branquinho e ele pode ser roxo?”, o pai puxa forte o braço do garoto. “Papai, quando eu crescer, posso ser roxo também?” Ai o pai solta um grande basta, pega o filho no colo e sai de perto, como se o roxo pudesse saltar da pele daquelas pessoas e grudar na dele.
    Mas ao mesmo tempo que eu via tanto ódio eu vi que muitos outros iam ate os roxos e os saudavam. A coisa mais linda de ver ela que um roxo sentado na praça estava rodeado de amigos. E estes amigos eram verdes, vermelhos, azuis, amarelos... Todos juntos rindo e se abraçando... Outra hora vi uma senhora tomar chá em uma padaria. Ela era toda rocha, mas mesmo assim a serviram com prazer, pois seu dinheiro era verde, seu sorriso era branco, e seu chá era o mesmo mate que o das outras pessoas. A senhora só tinha uma diferença: Ela era roxa.
    Então cheguei a conclusão de que não preciso mais desse pode arroz, desta tinta que uso para ninguém me ver roxo como sou. Eu sou roxo, e se alguém se julgar branco demais, verde demais ou a cor que seja demais pra lidar comigo, nada posso fazer. Escrevo para os roxos e para os que gostam deles, se não gosta, nada posso fazer. Um roxo pensa assim como eu penso, se não gosta nada posso fazer. E se algum dia alguém me perguntar quanto a minha cor, eu responderei sem perder tempo: “Eu? Eu sou roxo!” E se não gostar, esta pessoa poderá virar as costas pra mim. Mas sei que existem pessoas que gostam de roxos.
    Agora só me resta um único afazer, ser feliz. Outro dia passei pela rua a noite e vi dois roxos se beijando e trocando carinhos como duas pessoas que levam uma relação de amor e carinho. Eu ate hoje, graças a esta mania de ser branco, não fiz nada parecido... Quem sabe o próximo passo é procurar um roxo que seja tão roxo assim quanto o meu? Mas nem ligo para cor, nem pro preto, nem pro branco, nem pro roxo... Ligo apenas para amor...