segunda-feira, 17 de maio de 2010

Morando Comigo

     Não tinha mais como adiar, já eram seis horas da tarde e o céu já estava ficando avermelhado. Dentro de pouco tempo viria a noite e, com ela, o que tanto sonhei. Eu e ele já namorávamos há algum tempo, mas agora era diferente. Eu finalmente tinha saído de casa, e estava morando numa casinha simples no sul da velha Londres. Vizinhos pacatos, rua com árvores, gramados aparados... E a partir desta noite aconteceria a unica coisa que faltava: Meu namorado viria viver comigo.
     Sempre foi um sonho que isso acontecesse e que finalmente pudéssemos viver uma vida feliz juntos sem ter que me importar com as preocupações de horário de meus pais e as limitações que eles impunham para meu relacionamento. Enfim poderia beijá-lo sem me preocupar com meus sobrinhos que poderiam estranhar este tipo de situação. Eu finalmente ia poder ser eu durante todo o tempo.
     Não demorou muito e eu ouvi a garagem abrir. Tinha lhe dado as chaves, para que pudéssemos fazer assim como manda o figurino: o homem da casa chega depois de um dia longo de trabalho. O único problema aqui é que são dois homens e dois carros. Eu cheguei há pouco, e ele está chegando agora. 
     Creio que a esta hora alguns dos vizinhos já devem ter reparado nisso. Talvez ate mesmo aquela doce senhora que me trouxe uma torta de manhã... Não consegui conter minha curiosidade, tive que olhar pela janela. E lá estava ela na porta da casa a frente, como uma sentinela. Não me julguem mal, mas minha cabeça este dia não estava lá muito normal. Fui até a porta, vesti um roupão (porque estava só de bermuda) e sai. Fiquei na porta esperando meu amor vir para entrar. Não demorou muito e ele veio todo sorridente, como se também estivesse ansioso por esta noite. Eu o abracei pela cintura, e dei-lhe um beijo do tipo que se dá em seu namorado só em muito particular.  Torci meu rosto para poder espiar o que acontecia com a senhora do outro lado da rua. Ela havia se levantado e estava entrando. Esperei ela sair e logo cessei o beijo e chamei meu namorado pra entrar.
      Quando contei o que eu tinha feito ele só faltou me bater, mas também riu muito. Mal acabamos de vir morar juntos e já estávamos procurando encrencas com vizinhos. Mas no fim ficamos criando piadas imaginando a pobre senhora fazendo ligações para todos os vizinhos, espalhando o que poderia ser a única noticia realmente nova naquele lugar em décadas.
     Fomos juntos para a cozinha, com o intuito de escolher o que fazer para o jantar. Apesar de cozinhar bem, não tinha muita experiência nesta historia de ser chefe de uma cozinha completa. No fim das contas acabei descobrindo que minha cozinha inteira era enorme e que iria ter que bolar um esquema mais inteligente de guardar os mantimentos, pois foram minutos desperdiçados procurando um simples pacote de pene. Pego mais alguns legumes na geladeira, queijo, berinjela... Pronto, tínhamos o cardápio: Uma salada simples de vegetais cozidos e um pene com molho de ratatouille! Chique, não?! Um pouco de culinária francesa faz bem a qualquer um, principalmente quando o assunto é um jantar a dois. Lógico, acho que nenhum chefe francês gostaria de me ver misturando o macarrão com o ratatouille, mas eu gosto de ousar às vezes. Minha unica dúvida ficou entre pegar uma garrafa de vinho que companhasse bem. Acabei pegando um Bandol rosé lindo que a muito tempo vinha guardando pra uma ocasião ocasião especial. Para ser franco, sou extremamente fraco pra vinho, mas acho que não há problemas em beber na sua casa com o seu namorado. Ainda mais em vinho tão lindo! Seria um pecado negar. Por sorte, seria justamente minha escolha natural pra harmonizar um ratatouille.
      Apesar da proposta promissora e tentadora de meu namorado de ir tomar um banho junto com ele, eu preferi continuar na cozinha. Por quê? Ora, os motivos eram simples. Se eu ficar aqui cozinhando eu vou matar a minha fome, que esta me incomodando bastante. Já se eu subir, primeiro que esse jantar não sai nunca, segundo que nos vamos acabar nos “distraindo” e este banho vai causar um lapso na conta de energia. Logo presumi que começar a preparar o pene era a melhor opção. Coloquei o pene no fogo e  comecei a cortar os legumes com muita calma. Geralmente, cortaria os legumes em farias bem finas, mas para o pene acho que fica melhor em cubos... Adoro cozinhar, como já devem ter percebido. Tenho que confessar que nada supera a sensação de ter uma cozinha só sua, de estar ali fazendo algo que você vai comer e, o melhor, comer junto com a pessoa que você escolheu pra passar o resto de sua vida. Não existe nada mais romântico que cozinhar pra quem se ama.
     Não demorou muito e ele veio. Me abraçou pela cintura sem que eu pudesse ver que ele estava chegando e me mordeu a orelha de um jeito... É como se soubesse que bastaria aquilo pra eu me derreter em seu colo. E foi dito e feito. Não resisti, larguei a massa sozinha na panela e me virei para ele. Nem precisa falar que perdemos um bom tempo neste ritual de mordidinhas e beijos. Acho que para os que já se aventuraram na cozinha se torna quase obvio que nesse meio tempo o que era pra ser um macarrão ao dente se tornou uma sopa que mais lembrava um angu grosso. Resultado: Para o beijo! Vamos nos concentrar na comida.
     Ele, que é praticamente uma negação quando os assuntos são panelas e talheres, ficou por conta de substituir o tao macarrão. Eu comecei a refogar os legumes do molho. O molho do ratatouille pode ser infinitamente complexo, se quiser. Eu estava usando simplesmente um refogado com orégano fresco, alho e cebola, cujo cheiro encantadoramente simples trazia a tona exatamente o espirito que eu queria pra minha nova casa. Rala queijo, monta salada, escorre a massa, harmoniza tempero... Não demoramos mais que trinta minutos para acabarmos de preparar o jantar. Ainda acho que poderia ter sido menos tempo se nos tivéssemos resistido ao fogo, mas ele estava radiante, então não dava pra aguentar a tentação de beijá-lo quase que sempre. Mesa posta, talheres, pratos, o Bandol nas taças e um castiçal com três velas. Vocês devem estar rindo, mas é que eu realmente queria que a noite fosse perfeita, logo me muni antes de todos estes itens. Perfeccionismo é uma marca forte dos librianos e quem sou eu pra ser diferente? Ainda mais quando o assunto é arrancar cada sorriso do rosto do meu amor.
     Jantamos e conversamos muito. O molho, mesmo simples, tinha ficado divino! (Mas fica a nota mental de usar um pouco de noz moscada na próxima, só pra ver como irá ficar.) Meu amor gostou tanto que chegou a comer um pouco mais que o necessário. Eu quase o acompanhei, mas resiste ao menos a esta tentação. Digo ao menos que talvez tenha tomado... Tá! Tomei umas três taças de vinho bem cheias, o que definitivamente era bem mais do que eu estava acostumado. Porem não foram o suficiente para me tirar de mim, apenas me deram mais descontração. Fomos para a cozinha e deixamos as vasilhas muito bem organizadas ao lado da pia. Por que não as lavei?! Era obvio que eu tinha planos melhores para o resto da minha noite do que ficar lavando pratos! (Tarefa essa que eu acho a mais horrorosa da cozinha.)
     Subimos, e agora sim era a hora adequada pra passar no banheiro. Deixei meu namorado no quarto e tomei um banho não muito longo. Perfumei-me, arrumei mais ou menos o cabelo, cueca preta, um robe roxo lindo. Pronto! Sei que ele não repara em metade destes meus zelos, mas me sinto muito bem em tê-los. Quarto com luz apagada. Quando penso em me virar pra acender a luz do abajur, ele vem e me abraça pela cintura. Devo ser um total idiota! Tanto tempo namorando com este cara e ele me pega sempre do mesmo jeito. E o pior: eu sempre me derreto nos seus braços. Ele me conduz até a cama... Mais beijos... Tira meu robe... Bem... Acho que não foi nada mau para uma primeira noite morando juntos.

domingo, 16 de maio de 2010

A Mais Bela Flor que Cultivei

     As manhãs na “Veneza do Norte” s ao sempre iguais. O sol vem empurrado o denso nevoeiro que obstruía a visão da janela do meu quarto. Pouco a pouco fui levantando, tentando resistir a tentação de ficar por mais alguns instantes na minha cama quente e confortável, porem meu jardim estava lá fora me esperando para retirar seu orvalho, antes que a luz do sol queima minhas pobres arvores.
     Enquanto regava a cerejeira, que não havia relutado nada em crescer na fria Holanda, eu pensava em quanto esforço gastei pra fazer crescer cada planta deste jardim. Cultivei cada uma como verdadeiras amantes. E cada uma tem uma fabula, cada uma com sua historia. Cada uma é importante por algo. Ate mesmo esta cerejeira, que foi um presente de aniversario de meu irmão. Ele foi morar no Japão, e de lá veio pra meu aniversario. Numa grande caixa rósea lá estava a pequena plantinha. Apesar de ova, já trazia lindos botões. Ele inegavelmente sabia que eu sempre fui apaixonado pela beleza das sakuras. 
     Outro ponto de destaque é o pequeno arbusto que plantei próximo a minha janela. Todo ano ele me brinda com púrpuras e enormes romãs que vem quase que sozinhos, com muito pouco cuido ou trato, o que atrai a admiração das pessoas que passam pelo canal ao lado de minha casa. Esta arvore já esteve em um palco, a romã que a deu origem foi elemento de uma das minhas primeiras peças, e foi adorno na mão da Deusa Perséfone. Mesmo após um mês de apresentações a romã ainda estava lá, inteira. Em vez de jogá-lo fora, o guardei. E hoje ele deu origem a esta linda arvore que sempre me lembrara dos palcos e de como me faço feliz neles.
      Mas de todas as plantas que brindam meu jardim, de todas as mais diversas flores, a mais linda e especial e a tulipa branca que está sub a minha janela. Ela foi um presente. Não se é comum receber um bulbo de dia dos namorados, mas foi o que ele fez. Me deu um buque de lindas tulipas brancas, e junto um bulbo. Sei que a maioria das pessoas não ia julgar isso romântico, mas eu o julguei. Eu cuidei carinhosamente daquele bulbo, tratei com água, cultivei a muda no frio, esperei a melhor estação. Quando veio sua primeira flora, foi um dos momentos mais felizes da minha vida. E ele estava lá, abraçado comigo, admirando o alvo reluzir das pétalas da ínfima flor. Não demorou e nos casamos, e juntos continuamos a zelar por esta pequena florzinha. Anos se passaram e hoje o que era uma florzinha se tornou um canteiro todo, e a cada dia da primavera, colho uma flor e levo para a mesa de café da manha, olho nos olhos de meu amor e me lembro de como crescemos desde o dia em que ganhei aquele pequeno bulbo. Sei que cada adversidade só contribuiu para nosso desenvolvimento. Cada tempestade só fortaleceu nosso caule para que no futuro possam vir tempestades maiores, sem nos abalar. A doce flor, mesmo depois de podada, vai deixar energia suficiente no solo para que novas flores venham na próxima primavera.
     Junto minhas coisas, colho uma linda tulipa e entro, pois a mais bela flor que tenho que cultivar não está no meu jardim, mas me esperando na mesa, pra me dar um beijo e dizer que me ama. E por ele vale a pena acordar todo dia bem sedo e cuidar do jardim, mesmo na fria Amsterdã. Por que a flor branca que é o nosso amor, não pode morrer. E eu não me canso de cultivá-la, mesmo que os frutos venham minguados e em pouco numero, são os mais doces que já provei.

quarta-feira, 5 de maio de 2010

Análise de um sentimento

Sei que é bom e puro
Então presumo que é amor
Poderia ser algo mais forte
Mas sei que não o é
Pois meu coração não suportaria

Mas o tipo de amor muito me intriga...
Será daqueles amores que nos enlouquecem?
Do tipo de amor entre amantes?
Duvido muito, não é amor normal
Mas também não é amor de amigo
Pois amamos amigos próximos ou antigos
Não amamos amigos conhecidos há poucos dias
Não amamos pessoas sem olhar em seus olhos
Não amamos pessoas se não tiver se apaixonado
E sem duvida não me apaixonei...

Logo concluo que não é amor
Mas sim é ‘Amor’
Algo transcendental e difícil de descrever
Ate mesmo pra meus versos confusos
Mas sei que este amor
Faz-me de bem querer e bem dizer
Faz-me sentir falta de você
Faz-me sonhar com você
Faz-me orar todas as noites
E pedir aos céus pela sua felicidade
E assim obter aminha



       Dedico estes versos a Paulo Vitor, um rapaz brilhante. Mesmo o conhecendo há pouco tempo, e nunca tendo o visto pessoalmente, criei com este garoto um vinculo inexplicável, de tal forma que me abro com ele facilmente (o que é muito difícil pra mim).  Saiba que agora mesmo penso em você, que pra mim já é muito mais que um simples colega de internet, é sim um companheiro de estrada pra vida toda!!!

segunda-feira, 3 de maio de 2010

Ontem

      Ontem bastava um sorriso na boca de qualquer pessoa, ate na sua mesmo, para que eu me deitasse em seu colo, pra que eu o desse afeto. Bastaria apenas mais uma mão em meu ombro pra que eu gostasse de você.
      Se esta mão ousasse deslizar por minha nuca eu louco me apaixonaria quase instantaneamente. Olharia maravilhado para seus olhos a espera do que você iria falar.
     Sei que não será, mas se posse um “Eu te amo...” eu choraria o mais denso de todos os meus prantos. Uma metade das lágrimas seria por ter ouvido isso, a outra metade seria de tristeza por nunca ter reparado em você antes.
     E a partir daí não sei mais o que faria, mas sei que você saberia exatamente o que fazer pra arrancar de mim o que quisesse. E eu simplesmente não me importaria, nem se quer o impediria, pois estaria cego graças a esta vida longa a procura de um amor que talvez você tenha pra me dar....