quarta-feira, 11 de novembro de 2009

Filho do Sol

O beijo durou alguns minutos, sendo intercalados por sorrisos e por meus carinhos em seus cabelos custos, loiros e ondulados, como os de um anjo. Nos poucos intervalos que dávamos, eu olhava em seus olhos azuis e pensava como um garoto como eu estava ali.
Eu sou um jovem provinciano do interior de Minas Gerais, Brasil. E aqui nesta praia, no meio do nada, banhada pelo cristalino mar caribenho, é que eu fui achar quem gostava de mim. Nada precisei fazer, apenas ser eu mesmo. Foi simples assim:
Abri um banco de madeira amável que peguei no transatlântico em que vim, e passei a ler um dos livros que havia separado para a viagem: “Les Fleus Du Mal”, de Baudelaire. Não era uma tradução qualquer, era um original, em francês, idioma em que não sou grande coisa, mas quebro um galho. Foi ai que ele apareceu. Juro que não o vi se aproximar. Fincou a prancha de surf na areis, estendeu uma toalha no chão e se ajoelhou ao meu lado. Olhou para mim, escorou seu rosto no braço do meu banco e me perguntou:
- Lovely day, isn’t it? Where you from?
Quando me virei para responder, dei de frente um dos garotos mais lindos que eu já vi. Olhos azuis, cabelo loiro e cacheadinho, pele clara, porem marcada de sol, e uma marca no nariz e debaixo dos olhos que deveria ser de parafina da prancha. Alem disso ainda tinha um sorriso capaz de desarmar qualquer um. Tentei fingir que aquele sorriso não havia me alterado, porem fui logo deixando aquele livro de lado, largando meu amado Baudelaire bem no meio de um soneto, e me virando para falar com aquele estranho.
- Yes, lovely day! I’m from Brazil, and you…
- Brasileiro?! De onde você é? Qual seu navio?
- Que bom!!! – disse surpreso e me erguendo da cadeira – Sou de Minas e vim no Sant Lucy! E você?
- Sou carioca e vim no Caribbean! Prazer, sou Filipe!
- Prazer, Alastus!
- Belo nome? Esta de férias, Alastus?
- Bem, na verdade estou. Mas não consigo me afastar do trabalho nem querendo. – Apontei para o livro.
-Você é professor de francês?
- Não, sou diretor de teatro e escritor. E você, faz o que aqui no caribe, Filipe?
- Férias, mas também trabalhando. Surfo profissionalmente. Estou treinando antes da alta temporada.
Nesta hora ele se ergueu e veio para se sentar ao meu lado no banco. Ele era mais lindo visto como um todo. O seu abdômen não é nem muito forte nem muito fraco, estava enxuto no ponto certo. O calção baixo deixava a virilha semi-encoberta, sem pelos, bronzeada levemente. Se sentou e começou a folhear o meu livro. Foi logo dizendo.
- Eu gosto de poesias também, Alastus. Você deve ser o tipo popular com as mulheres, usando os versos deste cara.
- Não na verdade. Elas meio que não vão com a minha cara. Eu nem ligo. Não ser seletivo com parceiros deixa minha vida bem mais fácil neste ponto. E você?
- Que legal! Você também é bi! Mas está comprometido?
- Bem... – Hesitei em responder, mas acabei cedendo. – Na verdade não. Meu ultimo namorado me deixou a mais de três meses. Por que?
- Me faz um favor? Tenho que ver uma coisa na cidade mais a baixo. Vigie minha prancha?
- Claro, quando volta?
- Em umas duas horas. Me espere, volto antes que você possa reparar.
Eu ele se foi. Eu fiquei inseguro, mas como sei que a grande parte dos surfistas ama mais a prancha que a própria mãe, sabia que iria voltar hoje ainda.
Ele saiu e ma deixou lendo o meu livro não era nem uma hora da tarde. Quando deram quatro horas da tarde comecei a me convencer de que ele não voltaria e de que eu não merecia em ser como aquele ao meu lado. Comecei a me convencer de que não nasci mesmo para ser feliz. E é nestas horas que eu tiro para ler Baudelaire!!! Que diabos eu estou querendo fazer, cortar os pulsos?!
Eu me levantei quando o sol tocou o horizonte, eram sete da tarde aproximadamente. O céu laranja. A areia já fria. Eu andava cabisbaixo, chutando a areia quando ouvi alguém gritar meu nome. Era ele. Veio ate mim e me disse:
- Tenho uma proposta para lhe fazer. Alastus, quer ser meu namorado?
Fiquei duro e cai de joelhos na areia. Essa foi muita surpresa. Eu não sou um lixo? Alguém ainda me quer?
- Você vê algo de mais em mim? Não sou forte, não sou belo, não sou esportista... Eu sou só um garoto de uma cidade pequena que gosta de ler!
- E é isso que me cativa em você. É doce, amável, romântico. Eu fiquei loco por você a partir do momento que te vi na praia. Eu te amo, Alastus. E não adianta fugir de mim, vou junto com você aonde for.
Ele me estendeu um papel. Era um pedido de transferência assinado. Ele iria agora para o Brasil no mesmo navio que eu. Não acreditei quando li. Ele se aproximou e me pegou pela cintura e falou bem no pé de minha orelha.
- E ai. Tenho uma chance com você, “garoto do interior de Minas”?
Não tive palavras para expressar a alegria que senti. Eu o beijei assim que pude me virar para velo.
Eu não aço necessário descrever o que veio a seguir, só quero dizer que foi a noite mais especial de minha vida. Pela primeira vez fui amado, pela primeira vez fui desejado... Pela primeira vez sou feliz!



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