quarta-feira, 11 de novembro de 2009

O Enforcado

    Jogo cartas sobre este mesmo tumulo todas as terças-feiras, pois a noite no cemitério é o cenário perfeito para as leituras. Costumava a levar velas ou ate uma lanterna, mais já estava na segunda noite de lua cheia e o gigantesco orbe brilhante era mais que o suficiente para iluminar os desenhos do Tarô de Marselha.
    Tomava um vinho tinto que havia guardado para a ocasião. A taça de prata refletia o luar e exalava o doce aroma da bebida por entre as lapides. Envolvido neste clima, passei a atentar à minha leitura.
    As cartas me falaram de um rapaz misterioso que cruzaria meus caminhos. Não fazia idéia de quem fosse, mas gostaria que ele surgisse em breve porque sou inevitavelmente atraído por mistérios. Vejo-os como as gamas que dão brilho a um colar. Um rapaz pode ser lindo, mas não será nada alem disso sem um bom mistério.
    Empilhei as cartas e coloquei no bolso do meu sobretudo de seda negra, e fiquei apenas com a carta que representava aquele jovem em minhas mãos. Fiquei apenas fitando o Arcano XII do tarô, a carta do enforcado. Passava a mão por sobre meu abdome e fantasiava com aquela exótica figura.
    Ouvi um suspiro, ou uma rápida rajada do ar frio da noite. Saltei do alto da lapide onde estava e me surpreendi ao ver um estranho vulto que se aproximava em meio à neblina da madrugada. Quando já estava bem próximo, eu pude em fim ver o que era.
    Tratava-se de um jovem muito parecido comigo: Tinha pele bronze, como a de quem fica horas por sub o sol, seus olhos eram negros e o que mais nos discernia eram seus longos cabelos negros que se estendiam ate pouco abaixo do tórax, que transparecia por traz do sobretudo, também de seda negra.
    Ele veio ate mim e, sem nada falar, abraçou-me passando suas mãos por baixo da seda transparente e as fazendo apertar-me as costas.
    Fiquei temporariamente sem reação, porem assim que senti o calor que exalava de seu corpo não pude me conter: também o abracei, pondo uma de minhas mãos sobre seus fortes e musculosos braços e outra em sua nuca, por baixo das longas e macias mechas.
    Ele correspondeu logo a minha atitude. Pondo a mão em minha nuca, virou meu rosto e beijou-me a boca, enquanto sua outra mão acariciava meu ombro e retirava o manto negro que me encobria. Notando suas verdadeiras intenções, tratei de agir mais rápido que o jovem e misterioso rapaz.
    O virei e joguei no chão frio do cemitério. Abaixei e passei a beijar-lhe primeiramente o abdome. Enquanto isso arrancava minhas roupas o mais rápido que podia. Não demorou e já estávamos nus e eu, sobre seu corpo quente, deslizava minha língua sobre a morena pele.
    Não o dei um só momento de monotonia. Beijei-lhe todas as partes de seu corpo que pude alcançar. Arrombei o seu ser enquanto sussurrava em sua nuca, mordia suas orelhas e ouvia seus gritos de prazer. Fiz com que atingisse ao auge de suas emoções e fosse ao delírio incontáveis vezes, ate que ele não mais forças tinha para continuar, adormecendo sem demora.
    Fiquei sentado sobre aquela mesma lapide, olhando seu corpo sobre a grama. Por mais que quisesse acabar com o mistério, não tive coragem. O cobri com o seu sobretudo e o abandonei no chão do cemitério. No seu bolso transparente de seda deixei um numero de telefone anotado em tinta vermelha sobre o Arcano XII, e sai dali. Desapareci entre a mesma neblina que trouxe o jovem ate mim.

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